5 de agosto de 2016

Mais respeito com a Contabilidade!

Nos últimos tempos, temos visto, nos meios de comunicação, o uso reiterado de expressões como “contabilidade da propina”, “contabilidade criativa”, “contabilidade do crime organizado” e etc., em que a “contabilidade” é associada frequentemente a práticas criminosas ou ilegais. Esta associação da contabilidade com tais práticas, ainda que por vezes involuntária, vem desvirtuando a própria imagem da Ciência Contábil e desrespeitando a seriedade do trabalho dos profissionais contábeis. Não existe algo como “contabilidade da propina” ou “contabilidade criativa” dentro dos preceitos da Ciência Contábil. 

Na nossa opinião, não é a mídia a única responsável por estas associações pejorativas da contabilidade com práticas tendenciosas e criminosas. Isso, na verdade, é fruto também de nossa omissão e da negligência das entidades de fiscalização profissional. Se as entidades da categoria tivessem mais compromisso com a profissão, nosso campo de trabalho seria mais respeitado pela sociedade. Mas o próprio Conselho de Contabilidade vem propagando conceitos equivocados ao aprovar resoluções que alteram termos já consagrados na Ciência Contábil.

Vejamos: A Ciência Contábil diz que são “ativos” todos os débitos que têm liquidez. Este conceito foi incorporado na legislação para dar segurança jurídica aos profissionais na elaboração das demonstrações contábeis, ao determinar que as contas do Ativo serão dispostas em ordem decrescente do grau de liquidez dos elementos nelas registrados. O Conselho Federal de Contabilidade, em vez de fortalecer este conceito e de exigir a devida correção toda vez que ele sofresse alteração, acabou por aprovar um novo conceito, que flexibiliza bastante o significado de “ativo”, tornando-o deveras subjetivo: “Ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que resultem futuros benefícios econômicos para a entidade.”

Ainda, a Ciência Contábil define que “investimentos” são aplicações permanentes com finalidade especulativa. Este conceito também foi incorporado na legislação brasileira. O Conselho Federal de Contabilidade novamente altera o conceito, dizendo que todos os bens adquiridos com o objetivo de locação, com a finalidade de auferir aluguéis, são um “investimento”.

Há pouco tempo, recebemos um vídeo de um contador que estava desenvolvendo um curso de “finanças pessoais”. Neste vídeo, os conceitos de ativo e de passivo foram alterados ao ponto de ele dizer que todo ativo que não gera renda para o seu proprietário, mas gastos, deixa de ser ativo e passa a ser um passivo.

Imagine o que passa na cabeça de quem não conhece contabilidade... Para estas pessoas, “ativos” são formados por débitos que geram renda e “passivos” por débitos que geram obrigações. Conceitos totalmente fora das normas contábeis; entretanto, aceitos e desenvolvidos pelo profissional. Nenhuma entidade da profissão contestou isso.

Portanto, são os próprios profissionais que coadunam com estes abusos cometidos contra a Ciência Contábil. É preciso fazer com que o campo de trabalho seja mais respeitado, alertando e exigindo a devida correção sempre que alguém extrapolar no uso dos conceitos e termos; e é papel do Conselho de Contabilidade implementar de fato esta fiscalização.

Fazer essa reflexão sobre o nosso próprio comportamento é importante para que os outros comecem a respeitar mais a nossa profissão. Dito isso, devemos começar pela nossa identificação profissional, usando o título correto que recebemos na escola ou na academia: somos contadores ou técnicos; e não “contabilistas”.

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